Hipócrates, que nasceu em 468 a.C. e faleceu em 377 foi considerado o pai da medicina ocidental, com duas correntes terapêuticas fundamentais:
Contraria Contrariis Curantur e Similia Similibus Curantur.
A primeira baseia-se no princípio dos contrários – a insónia de um bebedor de café é tratada por medicamentos que induzem ou provocam o sono –, enquanto que a segunda se estrutura no princípio da semelhança – nesse indivíduo, a quem os efeitos imediatos ou mediatos do abuso do café impedem ou dificultam o sono, é o mesmo café utilizado em doses homeopáticas, diluídas, para combater a insónia.
Para além destes dois princípios, um outro tem assento nos vários métodos terapêuticos, a que não tem sido dada a importância devida: referimo-nos à Isopatia, que grosso modo propende a combater a doença com produtos da mesma ou com secreções e excreções do organismo acometido por uma determinada patologia. O igual é tratado pelo igual: Aequalia Aequalibus Curantur.
Exterminar as inúmeras patologias por intermédio dos seus princípios causais é uma das mais profícuas intuições imemoriais, e validação empírica da sempre renovada arte de curar.
São muitos os estudos históricos e antropológicos, que asseveram a existência de conhecimentos nos povos primitivos, do facto de que a inoculação de pequenas doses de um determinado veneno, protege o inoculado do seu contacto acidental – verbi gratia, mordedura de cobra – e efeitos perversos, nalguns casos mortais.
Também Hipócrates, que preconizou o tratamento, quer pela lei dos semelhantes quer dos contrários, validou a Isopatia quando escreveu: “Vomitus vomitu curantur”.
Plínio, nascido no ano 23 a.C. disse existir um limo sob a língua do cão raivoso, que quando bebido exercia protecção contra a raiva.
Discorides afirmou no século I a.C., que onde há doença está o remédio.
Um médico chinês, Roa Tro, utilizava diluições do suor do próprio paciente, para além de ser um adepto das doses mínimas, o que o qualifica como um dos muitos percursores da Homeopatia.
O próprio Hahnemann, pai da Homeopatia, reconheceu com humildade, que antes dele, muitos médicos suspeitaram e intuíram, que alguns medicamentos curavam as doenças em virtude de produzirem sintomas mórbidos análogos. Prestou nomeadamente homenagem a Stahl, médico do exército, que atestou ser o princípio adoptado em medicina, de curar as doenças por modos opostos – Contraria Contrariis Curantur – inteiramente falso e equivocado. Stahl estava persuadido – sem que o tivesse logrado demonstrar –, que as doenças cedem e se curam pelos agentes produtores de moléstias semelhantes – Similia Similibus Curantur.
Para além deste, há quem refira o médico vienense Antoine Stoerck, como verdadeiro percursor da homeopatia científica, ao estudar em 1760, para além do princípio da similitude, a acção das doses infinitesimais.
A Isopatia é um processo terapêutico medicamentoso milenar, distinto da Homeopatia, conhecido ainda que de modo empírico por praticamente todos os povos. Se na Homeopatia, semelhante cura semelhante, ou seja, a substância terapêutica que em dose ponderal ou experimental – Hahnemann e outros experimentadores de substâncias medicamentosas utilizaram potências elevadas, tal como a 30ª CH – é apropriada a gerar num organismo são um conjunto de sintomas, cura quando prescrita em pequenas doses os sintomas patológicos análogos que existem no paciente, já a Isopatia, constitui-se como método de tratamento através dos iguais, e isto, independentemente da qualidade da substância utilizada.
No entanto, para o seu cabal entendimento, é de todo essencial, que sejamos introduzidos no método homeopático de cura, ainda que de forma sintética, até porque, como afirma O. A. Julian, só com o triunfo desta passa o uso da Isopatia a ser sistematizado, com a particularidade dos seus produtos e substâncias serem preparados segundo as regras da farmacopeia homeopática – que a partir daí receberam a denominação de isoterápicos.
Podemos hoje falar, sem qualquer receio, de uma medicina vitalista que se baseia em diluições e dinamizações sucessivas de determinadas substâncias – que denominaremos de adaptógena em virtude de não encontrarmos melhor termo – a quem haverá que atribuir um papel determinante no processo de cura, quer pela sua eficiência quer pela economia de meios, sendo esta última a única esperança dos que neste mundo egocêntrico se encontram votados a um total abandono.
O Vitalismo, por contraposição ao Organicismo – doutrina segundo a qual o corpo obedece apenas a leis físicas e químicas –, sem cair na dogmática do Espiritualismo – a vida tem um princípio vital criador, que é Deus –, acredita que os seres vivos são detentores de uma força vital, pela qual actuam e a quem estão sujeitos, princípio este, que não se identifica com as propriedades físico-químicas do corpo. Nesta perspectiva, a doença manifestada por sinais e sintomas é o resultado de alterações energéticas.
Agimos por intermédio do nosso nível físico, sentimos pelo emocional e pensamos pelo mental. A força vital interage nos três níveis, mantendo-os equilibrados e coesos, em suma, em harmonia. Quando surge uma qualquer enfermidade, é esta energia vibratória que primeiro se ressente e que urge reequilibrar.
O termo Isopatia, deriva do grego isos - igual -, e pathos - sofrimento. Baseia-se na cura do igual pelo igual, contrariamente ao que ocorre na Homeopatia, onde vigora a lei dos semelhantes – Similia Similibus Curantur.
Não utiliza os sintomas decorrentes da experimentação, caso a substância a esta tenha sido submetida, e não toma em linha de consideração a individualização do paciente, mas apenas o que está motivando o seu padecimento. Deparamo-nos aqui, com uma verdadeira similitude etiológica.
A Isopatia constitui-se na sua definição corrente, como método de tratamento através dos iguais, e isto, independentemente da qualidade da substância utilizada, orgânica ou não, desde que solidamente vinculada como causa da patologia instalada no paciente ou numa determinada população. São em regra preparados homeopáticos ou segundo os princípios próprios da farmácia homeopática, obtidos a partir de excreções e secreções patológicas, culturas microbianas, tendo por objectivo, quer a prevenção quer a cura de enfermidades, com recurso à substância ou agente causal.
Aequalia Aequalibus Curantur.
Esta terapêutica efectivada através de substâncias submetidas a diluições e agitações sucessivas, em conformidade com os métodos da farmacopeia homeopática de preparação dos medicamentos, foi descrita por Hahnemann, que não era de modo algum, um dos seus defensores, contrariamente ao que acontecia com Hering e outros eminentes investigadores e práticos homeopatas.
De qualquer forma, a maioria dos medicamentos isopáticos, são empregues após terem sido diluídos e dinamizados. De alguns foi estabelecida a patogenesia por via da experimentação homeopática, enquanto outros são ministrados em função da lei da analogia, sem qualquer experimentação.
É hoje dado como assente, que as diluições hahnemannianas obtidas de substâncias objectiva ou subjectivamente tóxicas, desempenham um efeito defensor contra a mesma substância.
A utilização de altas diluições – v.g. 15ª, 30ª, 200 CH –, quer pela necessária aniquilação da toxicidade das substâncias ou agentes vivos, quando utilizados em dose ponderal com a concomitante ofensa que daí advém ou pode advir para os organismos, quer pelo facto de quanto maior a diluição mais profundo e duradouro é o efeito do medicamento, produzem com resultados terapêuticos confirmados a eliminação de substâncias tóxicas do corpo.
Preferencialmente, os medicamentos isoterápicos oriundos de entes vivos devem ser sempre ministrados numa potência igual ou superior à 12ª CH – centesimal hahnemanniana –, dado que se ultrapassa o número de Avogrado, ou seja, a substância deixa de possuir quaisquer moléculas da originária, restando tão-somente aquilo que apelidamos de acção farmacológica energética.
Um dos campos preferenciais da Isopatia, prende-se com a dessensibilização do organismo humano, animal ou vegetal, relativamente a qualquer produto tóxico ou de qualquer outra substância, que esteja a atentar contra o equilíbrio fundamental do mesmo.
Destaca-se neste domínio a dessensibilização, nomeadamente de:
· Produtos de toxicidade demonstrada, venenosos;
· Drogas de uso ilícito;
· Bebidas alcoólicas, café, chá, tabaco.
· Substâncias alergénicas;
· Substâncias medicamentosas ministradas continuadamente pela medicina alopática, com os decorrentes efeitos perniciosos colaterais.
Para além da mencionada desintoxicação do corpo do paciente, a Isopatia desenvolve uma actividade de combate, extremamente importante, no que toca às inevitáveis agressões de:
· Bactérias,
· Fungos,
· Vírus, e
· Vermes ou parasitas.
A produção destes “bioterápicos”, deve respeitar escrupulosamente algumas regras básicas.
Há ainda a considerar uma profícua acção preventiva:
· Nas epidemias;
· Em patologias usuais e correntes;
· No parasitismo.
Não podemos deixar de nos referir ao papel dos medicamentos isopáticos – e também dos nosodos – na destruição de “barreiras” homeopáticas.
Em Homeopatia, muitos autores, falam com constância de barreiras. Estas impossibilitam ou dificultam a acção do simillimum. As barreiras tóxicas podem ser inatas ou adquiridas. As infecciosas são suportadas por focos de infecção muitas vezes em estado de latência, localizados em diversas partes ou órgãos do corpo.
As “barreiras” podem ser causadas por:
· Ingestão continuada de medicamentos alopáticos, por vezes durante largos períodos de tempo, tais como: antibióticos, sedativos, antidepressivos, corticóides;
· Vacinações;
· Anestesias locais ou gerais, muito especialmente, pela sua frequência, as dentárias;
· Doenças transmitidas hereditariamente – consideradas como parte integrante da diátese ou terreno do enfermo –, verbi gratia, tuberculose, sífilis, gonorreia;
· Doenças do próprio paciente: Infecciosas, como o sarampo, a escarlatina, colibacilose de repetição, gonorreia. Choques traumáticos, como os gerados em ambiente de guerra, na família, por crimes ou delitos graves.
Quando nos deparamos com várias barreiras num paciente, estas devem ser tratadas na ordem inversa ao seu aparecimento – alguns homeopatas preconizam a denominada toma em escada, uma dose por dia, três dias seguidos, na 9ª CH, 15ª CH, 30ª CH; no caso de doentes hipersensíveis deve espaçar-se o tratamento, até aos doze dias, ministrando-se uma dose de 4 em 4.
Assim, a titulo de exemplo, diga-se que a colibacilose urinária deverá ser tratada, com diluições de urina do próprio paciente, pressupondo que esta está contaminada com o agente causal.
MEDICAMENTOS ISOPÁTICOS
A Isopatia tem hoje um campo de acção amplificado. São muitos os homeopatas que recorrem aos seus prestáveis serviços.
Auto-isopáticos (ou auto-isoterápicos) – são preparados a partir de excreções e secreções colhidas do próprio doente e só a ele destinadas, tais como, cálculos renais, corrimento uretral, corrimento vaginal, crostas de feridas, escamas de pele, esperma, expectoração, fezes, lágrimas, pus, saliva, sangue, secreção nasal, suor, urina. São fabricados quer em dinamizações unitárias, quer em dinamizações complexas – urina + sangue + saliva...
Hetero-isopáticos (ou hetero-isoterápicos) – são todos os medicamentos produzidos com substâncias alergénicas ou produtoras de dano tóxico, externas ao paciente, tais como, alimentos, medicamentos alopáticos, pelos de animais, pó, pólen, venenos e outros produtos tóxicos.
Para além destes, referimos ainda os seguintes medicamentos, muito utilizados na prática clínica homeopática:
Organoterápicos – Na organoterapia utilizam-se órgãos saudáveis, diluídos e dinamizados, para actuarem nos mesmos órgãos de que foram oriundos, estimulando-os.
Nosódios – São medicamentos homeopáticos preparados de secreções e excreções patológicas de origem animal, vegetal ou humana.
Bioterápicos – são medicamentos obtidos a partir de tecidos de origem animal ou vegetal, de produtos de origem microbiana e quimicamente não determinados, de secreções ou excreções, patológicas ou não, ou ainda de alergenos.
Os bioterápicos estão divididos em grupos:
- Bioterápicos do Codex – soros, vacinas, etc.
- Bioterápicos Simples – produzidos a partir de culturas bacterianas puras.
- Bioterápicos Complexos – produzidos a partir de substâncias complexas.
O TRATAMENTO EM ISOPATIA
Vamos restringir-nos nesta sede aos auto-isopáticos e aos hetero-isopáticos, já que no restante, por questões de segurança e eficiência devemos recorrer a farmácias ou laboratórios homeopáticos credenciados.
Na auto-isopatia, utilizamos segundo as regras da farmácia homeopática - ver ARTIGOS » ISOPATIA no nosso site pessoal -, as nossas secreções ou excreções patológicas. Estas devem conter a causa da patologia ou reflectir o desequilíbrio gerado – v.g. o pus na furunculose, a expectoração na asma, bronquite, tuberculose, a urina nas infecções do trato urinário.
Por questões de segurança, os iniciados devem preparar os remédios de origem orgânica em potência não inferior a uma 12ª CH, e os potencialmente venenosos ou intoxicantes, numa 6ª CH.
Podem ser preparados a partir de:
· Corrimento uretral;
· Corrimento vaginal;
· Crostas de feridas;
· Escamas de pele;
· Esperma;
· Expectoração;
· Fezes;
· Lágrimas;
· Saliva;
· Sangue;
· Secreção auricular;
· Secreção nasal;
· Secreções purulentas várias;
· Suor;
· Urina.
Qualquer medicamento preparado segundo as regras da farmacopeia homeopática, obtido nomeadamente a partir de secreções, excreções, tecidos, sangue, de um determinado paciente, não deve em caso algum ser ministrado a qualquer outro indivíduo ou animal.
No respeitante aos hetero-isopáticos, incumbe-nos relembrar que estes são todos os medicamentos produzidos com substâncias alergénicas ou produtoras de dano tóxico, externas ao paciente, tais como, alimentos, medicamentos alopáticos, pelos de animais, pó, pólen, venenos e outros produtos tóxicos.
A Isopatia chama à colação a noção de identidade. Se uma pessoa, um animal ou até uma planta, estão a ser vitimas da acção tóxica de uma determinada substância, bactéria, vírus, fungo ou parasita, podem ver o seu equilíbrio energético ser restabelecido pela administração do agente causal, diluído e dinamizado.